Soneto
Ausente andei de ti na primavera,
Quando o festivo Abril mais se atavia,
E em tudo um'alma juvenil pusera
Que até Saturno saltitava e ria.
Mas nem gorjeios d'aves, nem fragrância
De flores várias em matis e odores,
Moveram-me a compor alegre estância
ou a colher, do seio altivo, as flores.
Nem me tocou a palidez do lírio,
Nem celebrei o vermelhão da rosa;
Eram não mais que imagens de um emíreo
Calcado em ti, padrão de toda cousa.
Inverno pareceu-me aquela alfombra,
E me pus a brincar com tua sombra.
William Shakespeare
Nenhum comentário:
Postar um comentário