terça-feira, janeiro 02, 2007

Soneto



Ausente andei de ti na primavera,
Quando o festivo Abril mais se atavia,
E em tudo um'alma juvenil pusera
Que até Saturno saltitava e ria.
Mas nem gorjeios d'aves, nem fragrância

De flores várias em matis e odores,
Moveram-me a compor alegre estância
ou a colher, do seio altivo, as flores.
Nem me tocou a palidez do lírio,

Nem celebrei o vermelhão da rosa;
Eram não mais que imagens de um emíreo
Calcado em ti, padrão de toda cousa.
Inverno pareceu-me aquela alfombra,

E me pus a brincar com tua sombra.

William Shakespeare

Nenhum comentário: