quinta-feira, dezembro 14, 2006

Esperança


Nesta rua jaz minha Esperança,
A quem de corpo e alma adoro;
Esperança de vida e tesouro,
Pois não a tem quem não a alcança.
Se a alcanço, tal será minha andança,
Que não invejo o francês, o índio, o mouro.
Portanto teu favor galhardo imploro,
Cupido, deus de toda doce folgança.
Que embora seja esta Esperança tão pequena,
De anos apenas dezenove,
Quem a alcance será um gigante.
Cresça o incêndio pois vale a pena,
Oh! Esperança, ninguém me demove
De estar a teu serviço vigilante.
Saí, Esperança minha,
A favorecer a alma,
Que sem vós agonizando
Quase o corpo desampara.
As nuvens do termor frio
Não cobrem vossa luz clara;
Que é míngua de vossos sóis
Não render quem os contrasta.
No mar de meus enfados
Mantende tranqüilas as águas,
Se não quiserdes que o desejo
Tropece com a esperança.
Por vos espero a vida
Quando a morte me mata,
E a glória no inferno,
E no desamor a graça.


Miguel de Cervantes

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